Monday, 17 September 2007

The Day The Earth Stood Still (1951)

De Robert Wise

Desde os últimos sete anos que a industria cinematográfica começou a concentrar as suas forças das metáforas de natureza política ao invés do retrato social dos fim da década de 90. É um força imbatível essa que nem a máquina comercial de Hollywood se consegue escapar, diz o livro de regras do executivo americano que se deve dar aquilo que o público quer mas na linha seguinte já se fala do cinema como escapismo. Ora esse público não quer rever as tristes notícias da noite no cinema (e assim o diz o livro de regras do espectador comum) e a referência 11 de setembro/guerra no iraque não faz partes do plano de quem quer assistir ao novo filme de acção ou à nova comédia com antigos elementos do SNL. A afirmação tem uma grande falácia já que não é o espectador que decide o que quer ver mas sim o bom realizador. O bom realizador que agarrou o fantasma de Nova-Iorque pelos cornos no A Última Hora ou aquele que homenageou vítimas desse dia de 2001 no United 93 ou outros filmes que nos últimos anos têm aparecido com a temática 9-11/Afeganistão/Iraque em grande plano e não há corolário nenhum que venha contrariar essa tendência dos argumentistas e realizadores lutarem contra a leveza das ideias dos produtores e mostrar tiros, pontapés, explosões e palhaçadas com uma referência que ligue a obra à triste realidade. Foi assim no pós-Vietname, na Inglaterra de Thatcher e sempre assim irá continuar.
Demora é um grande estúdio financiar uma super-produção onde a metáfora está tão propositadamente mal mascarada que só pode ter sido intenção do realizador para passar a mensagem com maior clareza. Robert Wise foi o pioneiro na Guerra Fria que fez o filme de ficção-científica com os pés mais assentes na Terra daquela época. Para se ver a dimensão do filme reparem que a ficção-científica com seres alienígenas estava em voga na altura desde que Orson Wells leu A Guerra dos Mundos de H.G. Wells na rádio e provocou pânico no país inteiro, aliás uma das cenas iniciais desde The Day The Earth Stood Still mostra um grupo de pessoas a ouvir a rádio onde o locutor avisa que isto não é uma brincadeira, da mesma forma que os filmes de acção com testosterona e bícepes a mais levavam o mundo inteiro à sala nos anos 80 ou as adaptações de B.D. levam agora.
Estava-se numa altura em que os efeitos especiais eram limitados portanto usados para o mínimo possível da "suspension of disbelief" logo a história teria que ter uma força bem mais proeminente. Para além disso, estavamos no começo da guerra-fria e os argumentistas e realizadores não se podem esconder do estado do mundo e como ainda não eram lavados pelo nacionalismo americano anti-comunista havia, acima de tudo, medo do futuro mais do que noutra década qualquer.
The Day The Earth Stood Still
partia do cenário de invasão extra-terrestres mas rapidamente muda para a hostilidade humana quando um soldado dispara contra o alienígena Klaatu. De repente o filme de ficção-científica que entrava dentro dos cânones do nosso planeta a ser ameaçado tornava-se numa calma constatação na nossa estrutura social com Klaatu a descobrir aos poucos como são os humanos e a admirar-se com as palavras escritas por Abraham Lincoln. Basicamente Klaatu analisa em vez de atacar e a sua resolução ainda é mais pacífica. De volta à Guerra Fria, num mundo que estava completamente dividido seria de esperar que um estúdio gigante financiasse uma produção completamente pró-valores americanos, em vez disso temos o medo da resolução do conflito em evidência. É uma época em que as pessoas queriam mais paz do que uma vitória norte-americana, a Bomba Atómica tinha sido apresentado meia dúzia de anos antes e era o principal receio que fosse a ferramenta principal da aniquilação total da raça humana. The Day The Earth Stood Still reflecte esse desejo pacífico e o invasor não está so cheio de boas intenções como põe à prova a união diplomática entre os povos da Terra.

No fim há pouco sinal de esperança. Afinal a principal ameaça vem de nós mesmo, numa jogada que considero arriscada o nome da ciência é posto em causa quando confrontado com as intempéries políticas, se calhar a solução está no conhecimento humano mas mesmo esse é encoberto por jogadas de medo de represálias por políticos.
Para o ano estreia o repensar da história nas mãos de um realizador medíocre sem estofo para um projecto desta importância e com Keanu Reeves no papel de Klaatu, escolha péssima. Sob pena da ideia original ser conspurcada por uma cena de acção desprovida de sentimento, que o filme original não tem, e de se perder o passo calmo e observador da obra original em detrimento de uma cena de suspense em cada 10 páginas do argumento resta ainda saber se de facto este filme será importante nos dias de hoje? 1951 era um ano de nações de costas voltadas e o filme reforça a ideia de todos se juntarem à volta do extra-terrestre para ouvir o que ele tem para dizer e analisar a sua solução, o novo milénio são anos de divisão cultural com a religião em grande-plano. Se o novo seguir essa ordem pode sair um bom novo update da história, se nos tentarem impingir outra vez Iraques e afins então mais vale deixar o filme na prateleira que o medo já não é o mesmo.

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