Saturday 25 October 2008

Brevemente

Gran Torino

Está aí o trailer do novo filme do Clint Eastwood. Não o The Changeling que está a chegar aos cinemas, mas Gran Torino, uma história interpretada por ele mesmo numa nova reflexão sobre a sua bela idade. O trailer está magnífico para quem gostaria de saber onde anda o Harry Callahan dos tempos passados de Eastwood.
É repetitivo continuar a glorificar o realizador/actor norte-americano dos últimos dez anos mas como nos traz sempre material assim tão bom também é difícil parar.
Trailer pode ser visto aqui.


Trick R Treat

Numa altura em que a Warner Bros. prepara a distribuição de um novo Saw é necessário analisar o estado do terror mainstream por terras norte-americanas. Os espanhóis vão surpreendendo com obras profundamente originais, os franceses trazem ao género a frescura do low-budget e as características mais simples. Os americanos estagnaram entre as sequelas do jigsaw e o género da tortura pornográfica. Ainda há mesmo público para mais um Saw? Havia ainda no primeiro por uma razão ou outra, e quanto mais os anos passam mais uma sequela brinda os espectadores numa completa violação do dia das bruxas, como se a festa norte-americana fosse da Warner Bros. e destes filmes já repetitivos que parecem existir só por uma tradição imposta por executivos.
Ainda por cima quando se sabe que a WB tem nos seus arquivos, desde o ano passado, um novo filme perfeitamente original que parece ser uma aposta arriscada que pelo trailer promete um regresso ao horror clássico de Hollywood. Todos os anos o filme passa em festivais de cinema fantástico no continente norte-americano e todos os anos vozes insurgem-se contra a WB por continuar a adiar a estreia deste Trick R Treat por uma nova entrada do universo Saw. E porquê? Quem é o público deste último? Quem ainda se interessa? Está aqui o que promete ser um novo fenómeno e ano após ano continuamos a receber mais do mesmo.
Dizem que Trick R Treat irá directamente para DVD mas como tudo aponta que não existem planos para um Saw VI para o próximo ano só resta esperar que 2009 seja finalmente o dia das bruxas que vamos poder ver 0 opus de Michael Dougherty.
Por enquanto fica o trailer.


The Curious Case of Benjamin Button


Um novo filme de David Fincher é sempre boa notícia para qualquer cinéfilo. Mesmo os seus filmes que mais polémica e discordância trazem (Alien 3 e Panic Room) não largam a característica visionária do realizador. Depois de um filme genial que infelizmente passou ao lado de muita gente, Zodiac, e que por aqui entrou logo no topo da classificação dos melhores filmes de Fincher, a expectativa de um novo trabalho é ainda maior à sentida depois de Seven. The Curious Case of Benjamin Button é baseado num conto de F. Scott Fitzgerald e conta a história de um homem que quanto mais envelhece mais jovem fica. O primeiro trailer dava muito pouco e parecia estar a querer vender um conto de fadas à là Tim Burton quando o mais provável é termos um Fincher romântico. O segundo trailer, no entanto, já ecoa clássico e promete um peso-pesado para a época natalícia.
Está aqui.


100Volta

Não sei o que dizer sobre este projecto sem querer ofender o realizador. Não é o tema que me causa mais problemas, é a fraca qualidade técnica em todos os domínios cinematográficos que me deixam a pensar na necessidade de um filme assim aparecer nas nossas salas. A realização parece dá ares de amadorismo, os actores são horrendos, a montagem atabalhoada, o som parece vir da câmara, os diálogos péssimos, a iluminação inexistente. E isto tudo só por um trailer? Admiro a perseverança de alguém que queira trabalhar e apostar tudo o que tem num projecto de sonho mas exijo um mínimo de controlo de qualidade para manter o filme, no mínimo, agradável à vista. Parece ter sido tudo filmado por uma pequena câmara de filmar género XLH1 o que poderia ser um aspecto positivo do filme caso se se trabalhasse de alguma forma a iluminação para além de fazer o balanço dos brancos na câmara. Pela primeira vez olho com nostalgia para o Fernando Fragata e lembro que embora seja um realizador e argumentista que parece falhar por completo o objectivo central do seu filme, é um técnico que sabe como visualizar um filme com profissionalismo.
Não sei se li alguras, se alguém me disse ou se terá sido num filme que vi, mas concordo que o cinema espanhol para chegar onde chegou teve que distribuir muito trabalho medíocre, esquecido e redundante. E por tal apoio qualquer iniciativa do ICA para oferecer financiamento (mesmo se for só para distribuição) a qualquer primeiro realizador que queira que o público veja a sua obra. Mas duvido que mesmo em Espanha se tenha chegado a este ponto, de quem se diz produtor/realizador/argumentista/operador de câmara/montador/Director de fotografia/editor de som e consegue fazer um trabalho péssimo em qualquer um destes domínios. É obra.

site com trailer aqui.

Friday 24 October 2008

Burn After Reading (2008)

De Joel e Ethan Coen


No futuro será difícil categorizar a filmografia dos irmãos Coen. Entre dramas construídos com olhos clínicos sobre os trejeitos da estupidez humana e sua perseverança a comédias absurdas sobre os trejeitos da estupidez humana e sua consequência, os Coens recusam-se a manter um nível sério e pedagógico de filme para filme. O que já nos têm vindo habituado, o amor dos irmãos está no cinema clássico que eles revisitam de filme para filme e os seus ecos vão de Kubrick, Eeling, Howard Hawks, Tex Avery, etc. São valores multifacetados e se daí vêm os maiores elogios à sua filmografia também é de lá que chegam as maiores vozes discordantes.
Vou apostar alto e dizer já que os Coen nunca fizeram um mau filme. Talvez comparando com o resto da sua obra, um Ladykillers ou um Intolerable Cruelty parecem tentativas falhadas, mas são males menores dentro de todo o universo da 7a arte. É tudo devido à forma como os irmãos trabalham, poços de ideias e conhecimento cinematográfico, são capazes de idealizar filmes dentro do imaginário que eles começaram a definir desde Blood Simple e nunca falhar o objectivo de construir todo um conceito tanto narrativo como visual. E são estas particularidades positivas que se deve focar quando sai um novo filme dos Coen, pode parecer que eles estão a querer fazer perder o nosso tempo mas qualquer filme que fizeram até agora e que farão no futuro é parte integrante de toda a obra apresentada e não imaginaria ela sem todas estas entradas.

Este novo Burn After Reading segue a tradição de uma comédia que segue um filme mais sério e de grande sucesso crítico. Vendo o palmarés dos irmãos até é curioso constatar que foram os seus trabalhos mais contemplativos que trouxeram mais sucessos e os colocaram no patamar das boas graças de festivais, logo é curioso apanhar o lado cómico e exagerado dos irmãos e vê-lo como um escapismo do seu verdadeiro "cinema". Mas entrar por essa porta seria renegar metade do trabalho dos quando mesmo na sua temática são encontram pontos de encontro. Voltando a dizer, eles são precursores do cinema clássico de Sunset Boulevard seja qual for o género que aborda.
Aqui estamos numa situação de comédia negra quase absurda. Osbourne Cox (John Malkovich) é despedido da CIA e prossegue a escrever as memórias contra todos os desejos da sua mulher (Tilda Swinton) que quer aproveitar qualquer oportunidade que tem para o deixar e viver com Harry Pfarrer (George Clooney). As memórias de Cox chegam por acaso às mãos de Linda Litzke (Frances McDormand) e Chad Feldheimer (Brad Pitt), dois trabalhores de um ginásio em Washington D.C. que acreditam ter na sua posse importante informação secreta da agência norte-americana. Mais personagens vão entrando na trama num seguimento quase ridículo de coincidências e mal-entendidos e o público é levado pela curiosidade de saber se haverá, no fim, alguém capaz de encontrar o sentido.
Tudo bem até agora, o público está sempre um passo à frente das personagens até ao fim quando se repara que nos encontramos a três quilómetros delas. Nada de mal, até que isto é um quase filme-mosaico na boa tradição que nos habituaram. É angustiante mas de uma boa forma e parte da comédia vem exactamente do absurdo burocrático.
O maior problema está na dúvida se os Coen foram mesmo tralhados para fazer as comédias que sempre quiseram fazer. Os diálogos não são propriamente hilariantes, e são só os actores e as indicações mise-en-scénicas deles que nos divertem. O tempo de cada situação cómica é completamente falhado pelos realizadores, mas vai-se dar o benefício da dúvida se tal é propositado ou não, e o fim tem um seguimento de ironia atrás de ironia como se servisse de punchline. A certo momento voltei a relembrar que os Coen provavelmente deveriam apostar na comédia física, algo que pode não agradar tanto aos irmãos pela perda de credibilidade, mas certos momentos deste filme e de outras comédias (lembro-me de The Ladykillers, por exemplo) são pequenos toques hilariantes de comédia quase Marxiana, pedaços de génio num filme quase esquizofrénico.
A estupidez é tema central em quase todos os filmes dos Coen mas é aqui que encontramos os exemplos mais fortes. Todas as personagens são movidas por objectivos estúpidos, a piada dos Coen está exactamente na tentativa de fazer cada personagem ter que responder pela parvoíce que andou a fazer durante o filme todo. Ao mais alto nível, e diria que com enorme classe, os Coen apontam baterias para vários orgãos da estrtutura social e governamental dos Estados Unidos da América. Da vaidade de Frances McDormand ao complexo de superioridade de John Malkovich, tudo é desculpa para os Coen poderem chamar de estúpidos as suas personagens. É divertido, não chegar a ser ácido nem propriamente pedagógico ou satírico o suficiente, mas pelo menos diverto é. A maior das ironias finais está na personagem de Ted Teffron (um magnífico Richard Jenkins), ele que parecia ser o mais sóbrio ou com objectivos mais saudáveis é também o que terá que pagar mais caro pelo embrulhado que todos os outros estúpidos andaram a preparar. As duas cenas finais incluem apenas as melhores personagens do filme (Malkovich, Jenkins e um sempre fabuloso J.K. Simmons) e revelam toda a força da comédia dos Coen - a física, a negra e a irónica.

São os actores a grande força motora do filme. São eles que interpretam o argumento com a dose suficiente de comédia, cada um com a sua estupidez própria. E estão todos tão bem que será impossível dar uma nota negativa ao filme. Os Coen safaram-se tanto porque não chegam a levar tudo a sério para serem acusados de qualquer coisa, e ainda porque souberam escolher bem a psicologia de cada personagem. Mesmo se no final nenhuma acaba por aprender alguma coisa e continuem todos incrivelmente estúpidos.
Uma última palavra para a fotografia do Lubezki. O meu director de fotografia vivo preferido desde que Conrad L. Hall nos deixou, está muito mal aproveitado numa comédia que só pede que ele mantenha um low-profile. Este homem é um génio técnico, usá-lo para um trabalho onde a fotografia não é uma necessidade artística é como pedir à Telma Schoonmaker para montar um filme que vá directamente para video, é como espetar caviar numa bifana e depois molhar tudo com mostarda. Não que ele tenha feito um mau trabalho, não seria capaz, mas estamos tão habituados a parar cada imagem que ele faz para contemplar a sua beleza e quanto ela faz sentido para o filme inteiro que apanhar assim um trabalho tão quase génerico é pesado para um fã do seu trabalho. Não quero aqui tirar qualquer valor aos Coen, mas a relação que tinham com o Roger Deakins já era tão boa que provavelmente o resultador teria saído melhor.