Tuesday, 9 October 2007

Superbad (2007)

de Greg Mottola



O "Jewpack" começou em 1999 quando Judd Apatow criou uma das mais brilhantes comédias de adolescentes que a televisão norte-americana. Infelizmente o mundo ainda não estava preparado e Freaks & Geeks foi infelizmente cancelado, mas Apatow tinha conseguido juntar um grupo de pessoas encabeçadas pelo multi-talentoso Seth Rogen e só precisaríamos de uns anos para que ele chegasse ao cinema com uma das comédias mais injustamente esquecidas no nosso país, 40-Year Old Virgin com um Steve Carell a começar a sua carreira no grande ecrã. O grupo volta atacar com a junção de alguns da equipa de outra fabulosa série de comédia norte-americana também cancelada prematuramente, Arrested Development, e o resultado chegou este ano. Esta produzida por Apatow e escrita por Rogen sai ao mesmo tempo que outro filme, Knocked Up, realizado por Apatow e protagonizada por Rogen e as duas (ainda não vi esta segunda) tomaram o verão norte-americano batendo os muito antecipados blockbusters e terceiros capítulos de sagas já edificadas e multi-milionárias.
A receita está no humanismo do "jewpack" que não para de nos surpreender na incisão das suas narrativas. Os filmes são feitos com o maior respeito pelas suas personagens e a tentativa de evitar em cair em lugares-comum, saída tão fácil para as comédias adolescentes. Sem seguir a linha do escatológico, Superbad é tudo aquilo que Judd Apatow e o seu grupo sempre nos habituaram e só essa simplicidade que eles nos costumam dar devia ser mais que motivo para que se começasse, de uma vez por todas, a dar valor a estes pioneiros da nova comédia americana.
A história segue um dia de dois rapazes, dois grandiosos Michael Cera e Jonah Hill, enquanto tentam arranjar álcool para uma festa para assim conquistar as raparigas-alvo para as suas primeiras experiências sexuais. A premissa parece ser American Pie de regresso, mas o argumento de Seth Rogen e as fabulosas interpretações de Cera, Hill e a grande revelação Christopher Mintz-Plasse (no já histórico McLovin) não deixam o filme ser apenas e só a premissa e ainda estamos nos créditos iniciais e já fica a sensação que existe algo de novo, quando o primeiro diálogo arranca, Jonah ao telefone com o Michael sobre que site porno ele se vai inscrever, a chapada de sinceridade ataca o espectador. Todas as personagens que aqui estão não são apenas imagens dos elementos da nossa adolescência nem ninguém se comporta daquela forma tão vã e desinteressante que Hollywood tanto gosta de apelas: não há feios nem bonitos, nem gordos nem magros, todas as personagens são iguais a si mesmas logo iguais a nós próprios. As mesmas inseguranças, o mesmo desespero de quem já teve 16 anos e as mesmas conversas repletas de linguagem menos própria porque, no fim, é assim que todos nós somos.
Apatow é só o produtor mas o espírito dele flutua na obra inteira como se ele confirmasse o seu estatuto de guro. No entanto é Rogen que, como argumentista e no papel de um dos polícias amigos de Fogell (McLovin a.k.a. Mintz-Plasse), se revela. O seu argumento é dos mais simples e sinceros que já se viu num filme de adolescentes desde o histórico The Breakfast Club de John Hughes e o seu sentido de humor é tão exagerado que tudo o que sai da boca de Jonah Hill parece ter saído, um dia, da de Seth Rogen.

Superbad está na pole-position das melhores comédias do ano. Acredito que muita gente não queira admitir o seu valor por ele atravessa aquela ténue linha de todos os outros filmes de adolescentes, mas nenhum deles tem o humanismo deste e nenhum deles admite que a temática principal é sexo porque quando estamos naquela idade não pensamos noutra coisa.

Salvé Apatow e o seu grupo. Quem ainda não os segue com devoção, que comece. Eu já aderi ao clube de fãs há muito tempo.

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